terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Joseph Anton ou os limites da tolerância religiosa



Por Júlia Martins


No atual momento histórico, em que atiradores entraram em um edifício em Paris e fuzilaram doze colaboradores do jornal francês Charlie Hedbo, entre eles alguns dos principais cartunistas do país, motivados por questões religiosas, ler Joseph Anton do escritor indiano e britânico Salman Rushdie é muito enriquecedor.

Salman escreveu o livro Os Versos Satânicos em 1988 e, por esse livro, recebeu uma fatwa (pronunciamento sentenciando à morte) do aiatolá Komheini, pois o líder irariano o acusou de satirizar o profeta Maomé em sua obra. A partir daí a vida do escritor virou de cabeça para baixo e é neste livro, Joseph Anton, que ele detalha todos os anos de esconderijo, de ameaças, de imobilidade, pois quase todas as companhias aéreas do mundo o proibiram de voar em seus aviões, e também da tentativa de continuar a sua vida, seus trabalhos e mostrar seu ponto de vista.
 
Salman Rushdie
O livro, um calhamaço de mais de seiscentas páginas, é muito detalhista em mostrar todos os momentos em que o autor foi retratado pela mídia, como ele se sentia com as acusações e com o cárcere, ao mesmo tempo em que fala de sua vida pessoal e de sua luta para conseguir a liberdade. Em muitos momentos, o livro é um pouco cansativo, e cita muitas pessoas que não conhecemos prontamente e precisamos pesquisar. Mas ao pensar que foram treze anos entre a proclamação da fatwa e sua revogação, temos que dar um crédito para Salman, afinal, como ao próprio título do livro já diz, ele teve que passar todos esses anos escondido e sem direito ao próprio nome, sendo chamado por anos de Joseph Anton. 

Esse é um livro que vale muito a pena ser lido, pois devido aos recentes acontecimentos, a mídia está em discussão sobre os limites da liberdade de expressão. Rushdie dá seu parecer claro sobre o assunto em diversos artigos que estão transcritos no livro, e que vindos de uma pessoa que sofreu na pele todos os tormentos do terrorismo e intolerância religiosa, são uma fonte preciosa para podermos avaliar e estabelecer nosso ponto de vista, além de respondermos à pergunta: pelo que realmente vale a pena lutar?

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