Por Júlia Martins
Fiquei
um semestre sem adquirir livros, devido à altura da pilha de livros não lidos em
minha casa. A meta era até o Dia dos Namorados, mas só voltei a comprar livros
em julho, o que exigiu um grande esforço. E o primeiro livro que adquiri e li
depois desse jejum foi Submissão, de Michel
Houellebecq. Por quê? O tema de um país como a França, tendo um presidente
mulçumano me pareceu um mote perfeito para um grande livro, bem ao estilo que
me cativou para as leituras: as distopias.
Entretanto,
me decepcionei um pouco. A narrativa se passa em 2022, portanto, não é um
futuro tão distante e me pareceu que muitos dos argumentos utilizados para
desenvolver a trama que culmina na eleição democrática de um líder que segue o
Islã por um país cada vez mais laico precisariam de mais tempo para maturar na
história. O tempo para que os grupos influentes e as mentalidades mudassem me
pareceu pouco, mas afinal quem sou eu para dizer o que vai acontecer neste
mundo cada vez mais veloz, não é?
Vamos
a alguns pontos que achei duvidosos. Primeiro, existe um enfraquecimento dos
dois maiores partidos do país, a esquerda e a direita moderadas. Isso facilmente
se explica pelo desgaste dos atuais modelos de gestão, mas daí para de repente
esses dois partidos serem batidos por um partido de extrema direita (à la Hitler) e outro muçulmano, já achei
demais. Deveria ter um esforço de articulação política entre esses dois
partidos tradicionais para que, ao menos, um chegasse ao segundo turno das
eleições. Ou os próprios eleitores ou a imprensa deveriam alertar para esse
fato e comprar essa batalha.
Segundo,
onde estavam os grupos que seriam potencialmente prejudicados depois que o
partido muçulmano ganhou as eleições? As mulheres, os judeus, os homossexuais?
Como um país que leva milhões às ruas para protestar e que simplesmente
inventou as greves pode não fazer nenhuma manifestação após as mudanças
substanciais nos direitos das mulheres?
Por
fim, como um livro que é vendido como o mais polêmico dos últimos tempos pode
colocar um protagonista tão fácil quanto um homem branco, solitário, professor
universitário e vulnerável no papel principal? OK, o rapaz é simpático e sua
história se desenvolve bem, mas fiquei com a impressão de que tinha alguma
coisa faltando. O livro é fácil de ler, bem escrito, mas não me convenceu.
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