Por Júlia Martins
Viva a Música! não
é um livro fácil de falar sobre, pois são vários os sentimentos e percepções proporcionados
ao longo da leitura. O primeiro pensamento que tive foi de que estava lendo
tudo aquilo que esperava do Apanhador no
Campo de Centeio e que não havia se concretizado na obra do escritor
estadunidense. Ou seja: sexo, drogas e rock
‘n roll - mas nesse caso salsa e outros ritmos latinos.
O
problema é que o livro extrapola esses temas e, aos poucos, vai se tornando bem
pesado. A história se passa na cidade de Cali, revelando as memórias de uma
menina de classe média chamada María. Tudo começa quando essa menina se
envereda para as noitadas da cidade, famosa pela vida noturna, e acaba se
apaixonando por esse estilo de vida e, mais profundamente, pelos ritmos que
estão permeados em toda a obra. Inclusive, uma dica que dou é procurar algumas
das músicas que são citadas pela própria personagem ao final do livro para ter
uma experiência mais próxima do universo criado pelo colombiano Andrés Caicedo.
O
ambiente alegre e nebuloso das festas regadas a drogas e bebidas aos poucos
começa a dar lugar a cenas de sexo grupal, assassinatos, suicídios, assaltos
etc. O que mais me marcou foi uma cena de espancamento e tortura no final do
livro que é daquele tipo de cena que temos dificuldade de esquecer. E olha que
nem vi realmente a cena, apenas a imaginei.
Andrés Caicedo (Foto: lalatina.com.br) |
Fazendo
um contraponto extremo ao seu conterrâneo Gabriel García Márquez e o realismo
mágico, esse escritor colombiano bem menos conhecido pelo público apresenta uma
narrativa realista e cruel. Passa seu recado e entra para a história, deixando
latentes os grandes problemas da juventude de sua época que persistem nos dias
atuais e que são muito similares à realidade brasileira e de toda a América
Latina. Me impressiona que não tenha se tornado um livro fundamental das
juventudes perdidas desde então.
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