terça-feira, 15 de setembro de 2015

A bíblia da juventude transviada!



Por Júlia Martins

Viva a Música! não é um livro fácil de falar sobre, pois são vários os sentimentos e percepções proporcionados ao longo da leitura. O primeiro pensamento que tive foi de que estava lendo tudo aquilo que esperava do Apanhador no Campo de Centeio e que não havia se concretizado na obra do escritor estadunidense. Ou seja: sexo, drogas e rock ‘n roll - mas nesse caso salsa e outros ritmos latinos.

O problema é que o livro extrapola esses temas e, aos poucos, vai se tornando bem pesado. A história se passa na cidade de Cali, revelando as memórias de uma menina de classe média chamada María. Tudo começa quando essa menina se envereda para as noitadas da cidade, famosa pela vida noturna, e acaba se apaixonando por esse estilo de vida e, mais profundamente, pelos ritmos que estão permeados em toda a obra. Inclusive, uma dica que dou é procurar algumas das músicas que são citadas pela própria personagem ao final do livro para ter uma experiência mais próxima do universo criado pelo colombiano Andrés Caicedo.

O ambiente alegre e nebuloso das festas regadas a drogas e bebidas aos poucos começa a dar lugar a cenas de sexo grupal, assassinatos, suicídios, assaltos etc. O que mais me marcou foi uma cena de espancamento e tortura no final do livro que é daquele tipo de cena que temos dificuldade de esquecer. E olha que nem vi realmente a cena, apenas a imaginei.
Andrés Caicedo (Foto: lalatina.com.br)
Apesar de tudo que falei acima, eu acho que o livro é muito interessante, até porque esses temas são parte da natureza humana e devem ser tratados também em obras literárias. O final da história é uma ode a esse estilo de vida desregrado, onde a busca pelas experiências mais estremas é o que importa na vida de uma pessoa. O recado de Caicedo, em minha opinião, é que não vale a pena viver se não for para tirar o máximo da vida o tempo inteiro, portanto, a partir do momento que não conseguimos mais curtir com toda a intensidade, seja por falta de saúde, interesse ou condição financeira, não vale mais a pena viver. Foi exatamente isso que o autor fez, após concluir essa obra e receber seu primeiro exemplar editado, Andrés se suicidou.

Fazendo um contraponto extremo ao seu conterrâneo Gabriel García Márquez e o realismo mágico, esse escritor colombiano bem menos conhecido pelo público apresenta uma narrativa realista e cruel. Passa seu recado e entra para a história, deixando latentes os grandes problemas da juventude de sua época que persistem nos dias atuais e que são muito similares à realidade brasileira e de toda a América Latina. Me impressiona que não tenha se tornado um livro fundamental das juventudes perdidas desde então.

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