Esta história de que
literatura russa é difícil é balela, conversa de quem nunca leu. Nomes como Dostoiévski,
Turguêniev, Leskov, Tolstói, Tchecov, entre outros, parecem muito intimidadores
a princípio, mas são leituras prazerosas. Uma escrita direta, sem muitos
floreios, mas que tratam a fundo a natureza humana, seus tormentos e sonhos.
Neste mês, li um livro de um
autor russo que ainda não conhecia, Gontcharov – mais uma grata surpresa dessa
turma de grandes escritores russos. Oblomov,
calhamaço de 700 páginas, narra a história do personagem homônimo, um aristocrata
que vive da renda de suas terras. O livro é uma sátira do estilo de vida desses
ricos senhores, os quais viviam à custa dos famosos mujiques, um sistema onde
quem tinha terras podia também ter direito a “almas”, um sistema de servidão.
Oblomov é um personagem
perturbante para aqueles que correm atrás de seus sonhos, pessoas de garra e
força de vontade. Afinal, isso é tudo que Oblomov não é. Vive praticamente
deitado na cama e no sofá, não é capaz de resolver até os problemas mais
essenciais, como decidir onde viver ou como escrever uma carta para o
administrador de seus negócios, e por isso acaba se vendo nas garras de grandes
vigaristas.
Oblomov antigo e atual (Ilustração: The New York Times) |
Nosso herói, um homem de bom
coração, apaixona-se então por uma moça apresentada por seu melhor amigo, e
tudo começa a mudar. O mestre da inação passa a ter mais energia para as
atividades sociais e até mesmo com seus cuidados pessoais, mas até que ponto o
amor é capaz de mudar uma pessoa?
Um grande livro, considerado
um clássico da literatura mundial, mas ainda pouco conhecido, em outro projeto
primoroso da Cosac (pessoas que leem
esse blog devem achar que ganho alguma coisa da editora, mas é só admiração
pelo grande trabalho executado por eles mesmo) que vale fazer parte da
biblioteca pessoal de todos.